Entrevista - Quem é Cidália Fernandes?
Cidália Fernandes (CF), professora, autora e, atualmente, diretora do Jornal de Vila Meã (JVM). Vamos conhecer um pouco mais sobre Cidália Fernandes, através de uma entrevista.
JVM: Fale-me de si: de onde é e como veio para Vila Meã; o porquê de ser professora e que atividades gosta de fazer nos tempos livres. CF: Nasci numa pequena aldeia do concelho de Vila Flor, em Vieiro, terra onde nasceu também a pintora Graça Morais. Como o meu pai era alfaiate e do concelho vizinho, fazíamos sempre muitas viagens de comboio entre a aldeia dele (Pinhal do Norte, concelho de Carrazeda de Ansiães) e Vieiro, que era a terra da minha mãe. Fiz a escola primária em Pinhal do Norte e dei continuidade aos meus estudos em Carrazeda de Ansiães e mais tarde em Bragança. Licenciei- me em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Alemães, no Porto, na Faculdade de Letras. Em 2006, fiz o Mestrado em Cultura Portuguesa, na UTAD, em Vila Real. Vim para Vila Meã no ano de 1989, depois do meu casamento. Fui viver para Penafiel, Croca, durante alguns anos, mas regressei em 2015. Eu não tenho propriamente tempos livres. Quando não estou a trabalhar na escola ou para a escola, concentro-me nos meus projetos literários ou nos assuntos relacionados com a casa e com a família. Mas gosto muito de passear, especialmente à beira-mar. Quando posso, vou à piscina nadar um pouco.
JVM: Sabendo que é professora, diga-me há quanto tempo leciona, escolas onde deu aulas e que disciplinas leciona. CF: Sou professora há 32 anos. Iniciei a minha saga em Vila Flor, depois passei por Mirandela, Régua e desci até Valongo. Finalmente fiquei colocada em Penafiel, onde me encontro a lecionar a disciplina de Português a alunos do Ensino Secundário, embora tivesse já lecionado a disciplina de Literatura Portuguesa e tivesse também trabalhado com alunos do Ensino Noturno (Com estes alunos vivi uma das experiências mais importantes da minha vida, pois reconheci neles o esforço e a verdadeira paixão pelo estudo e pela aprendizagem). Fui também professora, em regime de acumulação, no Colégio de São Gonçalo em Amarante, durante 13 anos, tendo lecionado a disciplina de Alemão. De referir que exerci também a função de professora durante 3 anos no Externato de Vila Meã, onde lecionei a disciplina de Português aos alunos do 9º ano.
JVM: Atualmente, onde dá aulas? Há quanto tempo leciona nessa escola? Organiza muitas atividades na instituição? CF: Encontro-me a lecionar desde 1988, na Escola Secundária de Penafiel. Sim, de facto, organizo muitas atividades na escola onde leciono, não só porque elas fazem parte das metas da escola, mas também porque elas são um contributo extraordinariamente válido para a aprendizagem e para a evidência de que fazemos parte de um Todo e os resultados dependerão da harmonia que se cria entre as partes (neste caso, direção, docentes e alunos). Dado que os professores têm de competir com outras solicitações consideradas mais atrativas pelos alunos, as atividades constituem uma estratégia extraordinária de aprendizagem e de partilha de saberes. As minhas atividades situam-se fundamentalmente na área da promoção do livro e da leitura, na divulgação da vida e obra de autores, no incentivo à escrita criativa... Há uma atividade que dinamizo há anos, na minha escola, direcionada para os alunos do 12º ano sobre a vida e obra de Fernando Pessoa. Os alunos que participam fazem-no sempre com muito
entusiasmo. São chamados, são solicitados a participar, a revelar-se, e isso, para alguns, é muito importante. Podem esquecer as aulas, mas não esquecem esses momentos.
JVM: Sei, também, que a Professora Cidália é autora. Fale-me dessa atividade, como surgiu, há quanto tempo é escritora, quantos livros já lançou... CF: O gosto pela escrita começou muito cedo, acompanhada pelo gosto da leitura. Lembro-me da angústia por que passava quando, na escola primária, tinha que apagar as pequenas frases e as palavras , que representavam já o meu mundo da escrita, da lousa de ardósia, único instrumento que possuíamos para escrever. Não havia cadernos nem lápis como hoje e sempre que estudávamos outras matérias, precisávamos desse material de apoio. Era uma boa forma de ativar a memorização. Qualquer escritor passa por um processo de refinamento, digamos, ninguém nasce escritor, como ninguém nasce professor ou engenheiro. Eu escrevia simplesmente porque me identificava com o que escrevia, e fazia-o sobretudo para mim e para me completar. De início achava graça às letras e às palavras e considerava que viviam dentro de mim; era uma espécie de magia e só poderia soltá-las depois de ler os livros que a minha professora me emprestava. Mais tarde, quando lia poemas ou histórias que fazia à minha mãe, recordo-me que ela chorava, não sei se era pela forma expressiva como o fazia (sempre fui boa leitora) ou se era pela emoção que lhe despertavam as minhas palavras. Já na Faculdade, partilhava os meus textos com as amigas. Quando nos encontramos, falamos ainda sobre esse tempo em que as palavras pronunciadas nos levavam para além dos limites das casas onde vivíamos. Comecei a participar em publicações partilhadas com outros autores, como Antologias de Poesia e Manuais escolares. Finalmente, em 2001 publiquei o meu primeiro livro infantojuvenil: Contar, Ouvir, Sonhar, na Editora Paulinas, de Lisboa. São 14 histórias, onde os animais (que eu trouxe da minha infância) são personagens principais. Seguiu-se o livro Nove Contos de Natal, da editora Campo das letras. Neste momento tenho mais de 6 dezenas de livros publicados, incluindo romances, infantojuvenis, manuais escolares, livros de apoio ao estudo… Muitos dos meus livros infantojuvenis têm CD, com as histórias narradas e com músicas da autoria do meu marido, Aníbal Magalhães. Somos uma equipa: eu escrevo o poema e ele a música. Temos também participado em vários festivais, nos quais obtivemos já vários prémios.
JVM: Fale-me de 2 ou 3 livros que a Professora tenha escrito. Como se inspirou? De que falam? Para quem se destina? CF: Tenho cerca de 30 livros direcionados para um público mais jovem; são infantis, infantojuvenis e juvenis. Posso destacar aqueles que tiveram mais edições: A menina que não gostava de fruta, O Menino que não gostava de sopa, Alberto na Antártida. Destaco ainda os livros Chamo-me Fernando Pessoa e Chamo-me José Saramago, da coleção Chamo-me, direcionados para um público juvenil, que são biografias de autores em primeira pessoa. Mas não posso também deixar de referir o meu último romance EmREDEs, cuja dinâmica gira em redor das relações professor /aluno, abordando temáticas como a indisciplina, o bullying e a dependência das redes sociais. Embora tenha já mais à espera da sua vez, o próximo desafio é a publicação de um livro de poesia, Só invejo os pássaros.
JVM: O que representa para a Professora Cidália ser autora? E ser professora? CF: Quando ainda criança me perguntavam o que queria ser quando crescesse, respondia sempre que queria ser duas coisas: professora e escritora. Claro que as pessoas achavam graça à
minha impetuosidade, maior do que eu, mas acredito que nessa altura já sentia que o era. Não sei onde começa uma e termina a outra, pois quando escrevo procuro partilhar com um público mais alargado e anónimo os meus saberes, as minhas vivências, as minhas histórias. Prefiro partilhá-los com um público presente, olhar o seu rosto, interpretar os seus gestos, responder às suas dúvidas. São desafios diferentes. Escrever é um ato solitário, um momento de reencontro connosco, de reconhecimento da nossa alma e das nossas paixões. A realização máxima, enquanto escritora, verifica-se quando me encontro com os meus leitores, quando visito as escolas ou sou convidada para a hora do conto e me transformo em Contadora de Histórias. Nesses momentos eu sou verdadeiramente feliz.
JVM: Neste momento é a diretora do Jornal de Vila Meã. Quando foi convidada, por que razão aceitou? CF: No final do ano passado surgiu o convite feito pelo Presidente da Associação Empresarial de Vila Meã, Geraldo Oliveira. Aceitei, e por que não? Tenho imensas ocupações, sou escritora, professora, mãe, esposa, mas o trabalho nunca me assustou. Já colaborei em vários jornais, mas como Diretora é a primeira vez. É mais uma experiência e um desafio para mim. Dar vida a um jornal é mostrar que as pessoas existem e, desta forma, poderei participar no processo de partilha e de construção deste todo, que é a comunidade em que vivemos. Por isso fiquei grata pela confiança depositada.
JVM: O que espera com este desafio de ser diretora de um jornal? CF: Como disse no meu primeiro editorial, o jornal é das pessoas e para as pessoas, por isso é sobre elas que se falará. Das que deixaram a sua marca, e por essa razão são mais conhecidas, mas também daquelas que, de uma forma ou de outra, deixarão, através da sua atuação e do seu saber, o seu legado para os vindouros.