Inédito de Agustina Bessa-Luís apresentado a 10 de março na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira
Agustina tinha apenas 19 anos quando escreveu “Deuses de Barro”, nos anos em que ainda vivia numa casa no campo, no Douro, rodeada das tias, onde praticamente não tinha amigos da mesma idade e onde dispunha de uma grande biblioteca.
E foi neste ambiente solitário mas rico em livros, que começou uma espécie de “diálogo com Deus”, que deu origem a três romances: Ídolo de Barro, Água da Contradição e Deuses de Barro que terão ficado “esquecidos”. A Relógio d’Água editou, em 2017, “Deuses de Barro”. No próximo sábado, dia 10 de março este livro será apresentado na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, pela filha da autora, Mónica Baldaque. A sessão terá lugar pelas 16h15, seguido da exibição do documentário sobre a vida de Agustina Bessa-Luís. Foi a filha quem, de resto, trabalhou sobre o manuscrito de “Deuses de Barro”, juntamente com Alberto Luís, o marido da escritora. “Fazer publicar este romance é como uma flor que eu e o meu pai queríamos oferecer a Agustina” – admitia, Mónica Baldaque, recentemente em entrevista, onde explicou que os livros foram encontrados na casa do Douro, aquando da venda da propriedade. Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante, a 15 de outubro de 1922, e a sua infância e adolescência foram passadas nesta região, uma ambiência que marcará fortemente a obra da escritora, bem como os quatro anos em que viveu no Douro, dos 15 aos 19 anos.
Sinopse: "Nós devemos escrever sobre aquilo que conhecemos", foi sempre o conselho dado por Agustina aos que se iniciavam na escrita. E foi por onde também começou — pelo mundo rural que tão bem conhecia, a Casa do Paço, em Travanca, aquele mundo fechado que frequentara em criança e adolescente, onde o convívio com as tias Maria e Amélia, sobretudo Amélia (a Sibila), fora o exemplo para a sua vida, um legado de sabedoria transmitido como uma profecia. As duas últimas páginas d’A Sibila testemunham, numa linguagem oracular, como num transe arrepiante e comovente, pela revelação do profundo, a transmissão de um destino, que ela, Agustina, terá de continuar a cumprir, depois da morte da Sibila. «Deuses de Barro, se por um lado é um esboço para a descoberta dos mundos fechados que integram estes três romances iniciais, por outro, representa já um grito de liberdade, ousadia, revolta e desafio contra os deuses de barro que nos vigiam, nos tolhem, com quem somos obrigados a conviver e a venerar”. (Do Prefácio)